Lampião e seu bando representaram o auge do chamado Cangaço, uma forma de banditismo social segundo o historiador inglês Eric Hobsbawm, do qual se destacaram antes de Virgulino Ferreira outros bandoleiros: Antônio Silvino e Jesuíno Brilhante. As primeiras incursões do grupo de Lampião datam de 1922, e sua motivação para entrar no cangaço não difere da maioria dos outros cangaceiros, disputas por terras que geralmente eram resolvidas à bala ou à faca, resultando em guerras entre famílias sertanejas. Estamos falando de uma sociedade extremamente hostil e violenta, quer seja pelas forças da natureza, que impuseram ao homem da região longos períodos de seca, quer seja pela organização social, marcada pelo coronelismo oligárquico que dominava grandes extensões de terras, os latifúndios.
A entrada de mulheres no bando começou em 1930 com Maria Gomes de Oliveira, a Maria de Déa, baiana, casada, que deixou tudo para se juntar aos cangaceiros e a aquele que seria o amor de sua vida, Lampião Ambos formaram o casal mais conhecido do cangaço e tiveram uma filha: Expedita Gomes de Oliveira Ferreira. Sobre a origem de seus nomes, podemos afirmar que ”O apelido Lampião decorre da facilidade que Virgulino tinha no manejo do rifle, que, de tanto atirar, mais parecia um candeeiro aceso nas escuras noites da caatinga" segundo Cicinato Ferreira Neto, um de seus biógrafos. Já Maria Bonita foi dado após a morte de Maria de Déa, como ela era conhecida no bando.
O assassinato de Lampião e de Maria Bonita ocorreu num dia como hoje, 28 de julho, há exatamente 86 anos, quando foram emboscados na Grota de Angicos, em Poço Redondo, Sergipe. Era o começo da manhã quando o grupo foi violentamente atacado pela volante comandada por João Bezerra da Silva, que usou até metralhadoras portáteis contra eles. O grupo contava com 34 pessoas, mas apenas 11 conseguiram fugir, dentre eles Corisco, o Diabo Loiro, considerado por muitos como o sucessor de Lampião. As atrocidades cometidas durante o massacre de Angicos, como ficou conhecida a última batalha de Lampião e seu bando, revelam que nessa guerra, não existia mocinho, nem bandido. Maria de Déa foi decapitada ainda viva. Ao contrário dos demais teve seu corpo abandonado e despido. Os cangaceiros foram degolados e suas cabeças desfilam como troféus de batalha por diversas cidades do Nordeste, inclusive Maceió e Piranhas. Mais tarde, a cabeça de todos passou por um processo de mumificação e foram expostas no Museu Nina Rodrigues, na Bahia, até 1968.
Morreu o homem, mas nasceu a lenda. E até hoje o mito em torno de Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, e sua companheira Maria Bonita se faz presente em diversas manifestações culturais nordestinas. Da dança do xaxado, à xilogravura, passando pelos inúmeros cordéis, o nome de Lampião ficou como símbolo de um nordeste que pedia socorro e respondia com violência à um contexto social também violento. Lampião e a cultura nordestina formaram um elo que dificilmente será rompido. Equivocadamente, programas policialescos querem associar o cangaço às atuais quadrilhas que roubam bancos e carros fortes em cidades interioranas, um anacronismo imperdoável de quem desconhece a História nordestina ou nunca leu "Cangaceiros e Fanáticos" de Rui Facó. A memória do rei do cangaço, entretanto, continua viva, principalmente naqueles que se debruçam diariamente em arquivos e livros para desvendar o homem do mito, o herói do bandido, o personagem da lenda.
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Concepção e elaboração do post José Ricardo (professor e historiador)
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BLOG OXENTE NEWS, 28/07/24
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